Seja bem vindo!

A palavra em harmonia com o divino, edifica o mundo... Acredito na palavra que promove união, compaixão, amizade, amor e gratidão...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ensaio




De olho no movimento dos dedos
os violões vão dando corda.

Gritos do bandolim, em Mi bemol,
acordam holofotes apagados e
despertam o silêncio sombrio do teatro.

Dedos trapezistas saltam as cordas;
provocam o som sobre o abismo musical
mas as melodias ainda não se entendem


As canções brincam na voz da moça
menina que sorri nos passos inquietos

As cortinas aguardam extáticas
o momento em que a sexta e a nona
saltarão das partituras da estante musical

A coxia, nos braços do silêncio,
sonha o momento em que
a Sol Maior acordará os holofotes
e arrancará emoções das poltronas.

Passos femininos, ansiosos,
bailam no tablado do palco
entre cabos e microfones


Notas meninas de mulher desatam as cordas,   
ecoam canções e desenham os Cantos na noite
que acalentam a agonia dos corações
à beira da estreia.





Zema/18/09/13







terça-feira, 11 de junho de 2013

SIMETRIA




E lá se vai a tarde anunciando que a estréia será na sexta-feira. Amanhã!  Amanhã?
Aqui, nas veias, as notas desajustadas do coração não permitem que se ouça o som lá de fora. Batidas fortes e a respiração acelerada agonizam o peito e enfrentam o teatro. Lá é mais forte, e com outras notas, toma conta do palco da emoção que não sabe o que esperar.
Sabe o que fazer e espera. Respira. Ouve. Dedilha. Memoriza.   

Veja você, nas sem razões dos acordes, Lá menor, calores, suores e angústias enchem o palco em assimetria com as vontades e anseios, na vontade, no sorriso nervoso e no tom de cada instrumento.
Amar o perdido deixam confundidas as batidas, em Dó, Ré, Mi, Fá,Sol, Lá em Simetria.

A sétima, e um, dois, três, de novo! Um... dois.. três! De novo...
Eu queria um sopro novo, mas gritam as cordas da guitarra, do violão e do baixo. Bateria no palco, ensaio em assimetria e os dedos receosos buscam  teclas, cordas, luzes, poemas, partituras... suores.
Quem é a Terça maior que não apareceu? Não é Terça? Lá menor então?  Quem?

Centenas de poltronas vazias seguem apreensivas com as tentativas. A canção vem e vai, e em uma curva desliza na partitura e escorrega pelo rio de acordes.  Gargalhadas e vamos lá...! A sétima... Um... dois...três...! Novamente ... Um... dois...três... O rouco forte do  baixo assusta o ar e um olhar espera o bemol do piano. A bateria se cala e se abraça a Sol. A música enche o ar e nos acalma.
Parece que o Criador toma conta das vozes, das mãos, das luzes e o ar se enche da melodia.


Chega a noite de mansinho. Hoje é sexta-feira, dez de maio! A mão transpira  e a estréia se aconchega nas poltronas. “As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão” e as cordas se entendem e expulsam do palco os ruídos, e uma voz feminina, maviosa, penetra os ouvidos e encanta o teatro com “coisas findas, muito mais que lindas, que ficarão”.

Os metais brilham, os tambores gritam, as partituras apadrinham! As cordas vibram, as teclas dançam, os poemas falam e as luzes observam boquiabertas, e “o coração em riso” e a banda em festa, e nossa alma arrepiada de prazer e aventura “no mesmo tempo”, celebram em silêncio.

Centenas de poltronas, agora de pé, gritam, sorriem e aplaudem. Ele e Ela, cravo e rosa, acordes e poesia em harmonia.. “o vento diz ele é feliz, a sabiá sabia já! A lua só olhou pro sol...” Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá... Simetria. E “isso é amor, e desse amor se morre!...”





Zema
10/05/2013


quinta-feira, 6 de junho de 2013

José Maria






Meu tempo é aqui
Meu silêncio estéreo
Minha sorte faço

Meu lugar é quando
Meu olhar grita
Minha morte viva

Meu poema é vida
Meu medo aspira
Minha agonia eterna

Meu saber é nada
Meu corpo líquido
Minha palavra muda





Zema
/04/06/13


sábado, 25 de maio de 2013

Serviço

O momento de reflexão não escolhe o momento: acontece!
E assim foi, em um momento inusitado, me foi ofertado um pequeno papel que era parte de uma folhinha. Para ser mais claro, fazia parte de um calendário e trazia uma piada. Não me lembro da piada. Lembro-me do momento e do sorriso da discípula que me ofertou o texto na sala Jeremias.  
Em sílabas a palavra serviço estava dividida.  Jamais havia visto aquela palavra daquela forma, separada em sílabas e mostrando-me toda a complexidade do Ser e quão é importante ser viço. A inquietude ou a epifania, como afirma minha amiga Marta Godoy, se fez naquele instante. Parti para uma última aula em outra turma mas a reflexão continuou revirando meus pensamentos. Na turma Débora, com a ajuda obstetra de um pincel e um quadro, aconteceu o parto. 
Um poema reflexivo filho de Jeremias e Débora tutorado por mim, nasceu: SERVIÇO.
Pequeno e forte, já nasceu berrando e exigindo atenção e com todo o viço brinca, circula e questiona todo o meu Ser à procura dos meus serviços ao Ser.
Compartilho-o sem a intenção de que este poemeto menino, viçoso, despretensioso possa brincar em suas mentes  e tecer aventuras com o seu pensamento.


Serviço


Para servir
É preciso
O Ser viço

Para Ser
É preciso
O serviço






Zema/24.05.13

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Timóteo









O horizonte da minha cidade
parece não ser mais inoxidável.
Pairam sobre os altos fornos
nuvens rajadas de ferrugem
com silêncios estranhos.

O vento francês rugiu e partiu
O ar indiano apenas...
Restam alguns pedaços de azul aqui e acolá.

Não é noite
apesar do relógio insistir.
Não veio ainda a noite com suas respostas.

Converso com o tempo
para ver se alguma gota se aventura,
pelos segredos da noite,
a entrar por minha janela.

Olho o horizonte e assisto:
minha cidade está enferrujando!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sax






A melodia invadiu a noite

possuiu  meu quarto

embalou meus pensamentos

escorreu pelas gretas de meu coração

encontrou  tua mão 

e bailou contigo pelo imenso salão

onde há muito pulsa tua ausência.





Com arranjo suave

soprou teias de teu rosto

abriu teus braços

tomou teus passos

deu-me teus lábios

fez amor comigo.







O ritmo penetrou a noite

embriagou meu corpo

banhou nas águas

que brincaram em tua pele

traçou tua silhueta sobre o lençol

deixando gosto amargo de batom

em minhas mãos.  

segunda-feira, 18 de março de 2013

FOGO!





Terreno baldio.
Restos de árvores humilhados.
Amontoados escorrem vida amputada.
Um cheiro de vida verde empilhada toma conta do ar. 
Galhos, folhas e flores:
bailarinos avulsados do vento,
companheiros do descanso de asas coloridas,
pouso dos raios da manhã.
São lenhas jogadas ao chão!

Fogo...!
Cascas vão se enrugando e se contorcendo ao assédio
e ao calor da chama que insiste em tomar-lhes a seiva,
que insiste em tomar-lhes a cor,
que devora as impressões escritas pelo tempo.
Fogo...! É um grito silencioso do que outrora fora um tronco viçoso,
fora galho parceiro do vento.
Lenho frondoso, agora arde vomitando espuma branca
enfumaçada que lacrimeja o chão.

Fogo...! Fogo...!
A chama vermelha com matizes amarelos toma os olhos.
Pouco se vê de madeira. Não há mais cascas.  Não há mais galhos.
Fogo! Toma conta do ar um espetáculo vermelho e ardente.
Fogo! O tronco contorcido geme os últimos estalos
antes de se entregar ao  clamor da chama que o envolve e devora.

Fogo...! Fogo...!
A noite ouve os estalos na claridade dos sonhos
do que foi vida, do que foi tronco, 
do que foi galho, do que foi pouso.
Fogo...! A noite sente histórias ardentes forjadas na chama
que parte rumo ao invisível.

Fogo..!  Fogo...!!
Terreno baldio.
O vento espalha restos de cinzas humilhadas. 


Dissolve amontoados que escorriam aroma de vida verde.


Fogo...! 
Espalha-se um cheiro 
de vida morta por todo o ar.
 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Velhos versos







 


 velhos  
versos
que
guardam
velhos tempos

Ah, velhos
tempos  
que
guardam
minhas  histórias

Ah, velhas
histórias
que
guardam
o velho menino

Ah, o menino
guarda
segredos
nos velhos
versos  
do homem.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Nossa Senhora Aparecida!






Óh, Maria terna e boa, lá do Céu nos abençoa!
A cantiga ecoa em minhas mãos e coloca as correrias da infância a brincar em meus olhos, e enquanto o pensamento se perde entre os  ponteiros do hoje e do amanhã, ontem fica brincando com o coração, medindo forças e  inventando novas batidas. 
O menino sozinho compra goiaba, ameixa e caqui no mercado,  e a cama vazia sob o cobertor, não grita mais “bença Mãe, bença Pai, bença Dia!”
O espelho diz mansamente que não sou mais “uma figura impoluta”.
Continuo "ordinário de uma figa".
Os sonhos passaram por tantas estradas, banharam-se em tantos ribeirões, deram tantas voltas. 
Meu coração disse tantos sins, saltou tantos pontilhões, teceu tantas chegadas e partidas que o gosto de carbureto ficou preso em alguma estação.
O Trem ainda acelera e engasga entre a Garganta e o Córrego do Ouro, e a saudade fica tricotando sorrisos no portão da Joaquim Nunes.
A “Volta do Ó” sempre volta quando meus olhos colocam nos trilhos um amontoado de sabores, e o pensamento se embriaga com o leilão de emoções no coreto de Nossa Senhora Aparecida!


Baía
1958

Tsunami





Imensa, bela,
forte,
maleável
bailarina solitária,
um reflexo divino

E vem ela
com um
tremor
E lá, de longe,
com seus quadris,
levanta águas calmas

Imensa, bela,
forte,
maleável,
a bailarina
se aquieta,
solitária.