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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Vida de árvore em Timóteo é phoda!






Todos os anos, no verão, aqui em nossa cidade, próximo ao Natal somos presenteados com uma macabra tradição, que consiste na mutilação pura e simples de nossas árvores urbanas. Dão a esta mutilação o nome de "poda". Os maltratos são tais que muitas vezes as árvores pouco a pouco vão se acabando. Se nada for feito para impedir, a perpetuação da violência e da agressão continuarão.

Os argumentos apresentados são sempre os mesmos: de que é necessário defender os fios elétricos do contato com as árvores, de que há risco de queda de galhos, estética(?) e etc.


Na  Alameda 31 de Outubro e demais ruas da cidade, diante de milhares de olhares calados, até os pardais se revoltam contra o crime praticado contra as árvores e contra a derrubada de tantos ninhos de Rolinhas, Bem-te-vis, Garrinchas e demais pássaros, no asfalto. Quem parar um pouco para observar fica impressionado com os cortes radicais dos galhos e se sensibilizará com as  “mães” pássaros  na busca desesperada por seus ninhos e por seus filhotes despedaçados no chão, sob os pneus que passam.

É preciso compreender que, em princípio, árvore alguma necessita de poda. A poda só faz sentido somente na fruticultura ou viticultura comercial, onde, segundo esquemas racionais e bem definidos, se faz podas com instrumentos adequados, cortando-se, em pontos pré-estabelecidos, galhos de pequeno diâmetro, sempre sendo tomadas precauções adequadas. A finalidade desta poda é educar a árvore de maneira a propiciar uma forma que facilite a insolação em toda a periferia e interior, a colheita e a frutificação. Este tipo de poda constitui toda uma ciência e deve ser feito dentro de uma técnica especial, a "dendrocirurgia".

Este Procusto que ordena tamanho absurdo por nossas ruas e avenidas se esquece que a primavera é anunciada pelo gorjeio dos pássaros. A  época é a preferida dos animais para se acasalarem, pois há muito alimento, galhos e sombras das árvores para  abrigarem seus ninhos.


Procusto? Sim. Na mitologia grega, “Procusto, “o estirador”, tinha uma cama de ferro que possuía um tamanho exato”. Quando os convidados se deitavam na cama, caso eles fossem maiores que o tamanho da cama, Procusto cortava-lhes as pernas, caso fossem menores, Procusto esticava-os para que coubessem exatamente no tamanho da cama. Nunca houve um só hóspede que sobreviveu, pois cada um tem suas dimensões e não cabiam justamente na cama.

Aceitar a realização contínua, anos após ano desse processo de mutilação é perder a capacidade de se indignar, de aceitar que nenhuma outra atitude é possível. Quando constatada realmente a necessidade de se remover galhos ou troncos importantes de uma árvore adulta, para defender um fio elétrico ou uma construção, que este trabalho seja feito de modo especial.

Em Timóteo nosso Procusto proclama: todas as árvores devem ter a mesma forma e função, ignorando que muitas árvores são dotadas de grande capacidade de florescer e frutificar, enquanto outras, tem grande capacidade para se revestirem de folhas e fornecer sombra.  Nosso Procusto tolhe a todas, pois exige que as árvores sejam iguais, medindo a todas com a mesma motosserra, com o mesmo facão, com a mesma foice.

Um herói grego de nome Teseu terminou com a obsessão homicida de Procusto, obrigando-o a deitar em sua própria cama, cortou todas as partes do seu corpo que sobraram fora da cama.



Por que não apreciar a árvore como a Natureza a idealizou?

A poda das árvores urbanas, precisa ter a aprovação do Instituto Estadual de Florestas (IEF-portaria nº2-12/01/09 - Art.12;8) e da Promotoria de Justiça da cidade. Além deles, a Secretaria Municipal Meio Ambiente deve fazer o acompanhamento do trabalho. Será? Será que esses defensores estão coniventes com as amputações e desastres causados, por essas mentes procustas, nas árvores de nossas ruas, avenidas e alamedas, ou são nossos Teseus?



 Continuaremos cantando que “Nossos bosques têm mais vida!/Nossa vida no teu seio mais amores”? ou cantaremos pelas ruas, sem nossas sombras, sem o canto e o vôo dos pássaros, sob o sol escaldante do Vale, a canção de Chico Buarque:” Some, Coleiro /Anda trigueiro / Te esconde Colibri / Voa, Macuco / Voa, Te esconde Bem-te-vi / Bico calado / Toma cuidado...Que o homem vem aí...O homem vem aí...O homem vem aí!


Timóteo/ Janeiro/2012



José Maria Honorato Moreira
 Professor / Técnico em Agropecuária

7 comentários:

  1. Tomou coragem e acabou colocando. Isso aí José, é o mínimo que podemos fazer, despertar um pouco mais de consciência.Grande abraço!

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  2. José Maria, parece que foi transmissão de pensamento... Eu estava lendo esse seu artigo e ia postar, acredita? Ficou muito bom, e precisa ser divulgado... Abraço. Salete

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  3. Ainda bem que existem pessoas humanas que fazem a diferença !!! Valeu Zé! Bjs

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  4. Parabéns pelo artigo José Maria...excelente!!! Vamos divulgar através das redes sociais, assim quem sabe os órgãos responsáveis de nossa cidade se sensibilizam, através da pressão da população, banindo este "Procusto" que vem mutilando nossas árvores. Um abraço!

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  5. Também fico horrorizado com tamanha brutalidade com a natureza em Timóteo. Dizem que é para preservar os fios, mas qual a desculpa onde não possuem fios(como nas fotos postadas)?
    Engraçado que se uma empresa ou cidadão corta uma árvore é multado com valores absurdos e a prefeitura "depena" todas as árvores da cidade sem critério algum.
    Todos reclamam do calor absurdo que faz na cidade, mas esquecem que este é inversamente proporcional ao número de árvores (verdes), são elas que contribuem para o equilíbrio do clima.

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  6. Ficou muito mesmo. Este texto tem que chegar às autoridades (in)competentes pois elas autorizam esta phoda. Bj

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  7. Parabéns Zé Maria !
    Não sabia do seu blog, este post ficou ótimo. Essa administração que esta ai faz "cara de paisagem" e fingem que não é com eles. Acho incrível em uma cidade como a nossa, com grande parte do território ocupado por um parque estadual, não haver sequer uma área verde decente para as pessoas relaxarem ou fazerem atividade física. Até as poucas ciclovias que existiam, estão sendo simplesmente eliminadas. Um Abraço !

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